
A minha primeira impressão, após terminar de ver o sensacional "Tropa de Elite", de José Padilha, foi a de um impacto que nunca cheguei a experimentar em nenhuma outra produção nacional das poucas que tive oportunidade de assistir.
A cultura nacional certamente lembrará de 2007 como o ano em que veio à tona um terreno nunca dantes navegado, entre o limiar da sobrevivência nos morros - retratado com muita franqueza pela figura dos atiradores do BOPE - numa seara antes abordada apenas por uma visão esquerdista tendente a tratar a violência como resultado de política social mal planejada, humanizando a figura do bandido dos morros - fruto desse caótico sistema de poucas oportunidades.
É claro que a visão da esquerda revigora, em parte, e não deve ser desmerecida. Porém, o que se vê em "Tropa" é justamente a preocupação imediatista de enfrentar a situação de violência de uma vez, e não esperando por um lampejo de benevolência do Estado Social para um planejamento a longo prazo. Daí, vigora a importância de se retratar o Estado de repressão - encarnado com autoridade pelo BOPE e por Capitão Nascimento, um homem no limiar entre a ética e o instinto de sobrevivência frente ao agonizante Morro do Turano, no Rio de Janeiro.
O tapa na cara, como muitos observaram, vem na endemia do sistema tráfico (banditismo do morro) - consumidor final (classe média carioca). A "consciência social" dos traficantes, tolamente interpretado pelos colegas do "aspira" André, nada mais mostrou do que um quarto poder subreptício e nocivo à paz social nos morros (já mostrado em 'Cidade de Deus") que a visão policial fez ainda mais questão de destronar, numa visão crua dos embates e táticas de guerra utilizados.
Num retrato humano dos três personagens principais - Capitão Nascimento(o contundente Wagner Moura), Aspirante André ( o surpreendente André Ramiro) e Aspirante Neto ( o inspirado Caio Junqueira), nada se faz mais coerente do que explanar o processo de brutalização pelo que os dois últimos passaram e pelo resultado final encarnado no primeiro.
O processo de brutalização é coerente e, pior, justificável, na medida em que observamos a situação de guerrilha urbana e na pouca esperança que se é dada numa corrupção policial endêmica e no descaso das autoridades federal e estadual.
Não é que se queira justificar a violência por si, mas um meio recorrente de práticas desumanas, impostas pelos policiais, encarna o instinto primitivo evidente nas corporações de elite, a qual, infelizmente, não se enxerga outra alternativa viável por ora para entornar a situação.
De certa forma, esse filme enseja um debate profícuo que não cabe, por si só, em um singelo post.
Digo uma coisa pra quem não viu: é um filmaço!!! E não aconselho assistir ao filme sob a ótica de uma visão canhestra e esquerdóide. É a realidade máxima que já se pôde verificar em uma obra de "ficção" (se é que se pode se chamar de ficção) nacional. E não se surpreenda em torcer mesmo pelas práticas de tortura do Capitão Nascimento. É justamente o que o filme pôe em cheque para o espectador, na análise da frase prefacial da película: "a situação é mais importante que o caráter ao determinar as ações de um indivíduo".
Nada mais oportuno para nós, sociedade, levar a debate este filme como forma de auto-aprendizado.
E só como uma frase final, pra relembrar o nome deste blog, digo que, sim, pior é a guerra. É neste caldeirão que nos enfiamos e estamos atolados até o pescoço.
Saudações. E agora sim,voltei.